Imagina-te na estação de metro da Baixa-Chiado isolado do barulho intrínseco do espaço físico, das máquinas, das moedas que caiem do bolso das pessoas, do barulho da roupa ou dos guarda-chuvas que se abrem e fecham quando é preciso.

A tua audição tornou-se selectiva. Ficaste surdo ao ruído das paredes, ao ruído prolongado do eco das escadas rolantes, ao ruído dos comboios que, consecutivamente, atravessam as linhas.

As coisas fecharam as portas.

Do interior da sombra, da sombra que se apoderou de ti, apenas consegues escutar o som da respiração das pessoas. São suspiros, angústias, sopros, palavras para lá das palavras, alguns espirros incomuns, sofreguidões, fôlegos contidos, bocejos.

É o que fica para lá do ruído das paredes, abafado pela estação, pelo eco da estação, pela fugacidade de esperar, de esperar por mais uma espera, de esperar. De esperar.


Cansaço.

                                                                                                                                               

                                            Cansaço.





  

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