Catarina. Entrou feita luz com a irmã, uns anos mais nova, por detrás de alguém com quem falava. E de vulto, passou a realidade. Recuou. Olhou-me nos olhos. "Posso ir ver a minha avó? Eu sei que provavelmente não tenho idade para entrar, mas posso só vê-la através do vidro?".

Foi exactamente assim. Para entrar, teria que lhe perguntar se tinha algum documento de identificação, qual era o nome dela, e dizer-lhe que, naquele Lar, a saída dos visitantes tinha que ser até às seis da tarde. E isso disse-lhe. Dei-lhe um cartão. "Vai".

Regressou cinco minutos depois, com a avó pelos dedos, com os olhos submersos em lágrimas, uma avó perdida de a ver e de a deixar assim, ela com a irmã pelo braço, pelo corpo todo, arrastada para fora daquele sítio de ver a dor nela própria por a avó nem a ter reconhecido. Entregou-me o cartão como quem diz obrigado. "Para a próxima, não me digas que não tens idade. Pedes-me o cartão, dizes-me que vais visitar a tua avó e entras. Só tens que ser honesta, assim como foste."

Agravei-lhe a dor. Não pude evitar as lágrimas. Sei que ela também porque não consegue chorar duas vezes ao mesmo tempo. Com doze ou treze anos, ninguém consegue chorar duas vezes ao mesmo tempo.

Quero pensar que terei mudado a vida da Catarina. Onde estarão os pais da Catarina? Quero muito. Só assim consigo mudar a minha.

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