Há uma separação não assumida - mas evidente - entre ciências ditas sociais e humanas e ciências ditas técnicas. Mas quando saímos à rua ou abrimos o vidro do carro esquecendo, por momentos, o caminho, vemos que o caminho é feito de ligações entre a matemática e as letras, entre a física e a metafísica, entre o que a nossa vista alcança e o que, não alcançando, se pressente.

A explicação para as coisas que vemos é, se quisermos, o resultado de uma combinação infinita de coisas que não vemos.

A memória dos materiais: se segurares um elástico entre os dedos e o fizeres vibrar, repararás que, passados segundos, volta fisicamente ao ponto de partida. Do ponto de vista da Física, no entanto, o elástico voltou não exactamente ao local de onde foi, porque factores como a pressão exercida, o tipo de contacto ou coisas tão normais como a temperatura ambiente em que a vibração ocorreu determinaram variações no regresso.

 Humanamente, é mais ou menos isto. Resiliente, mais ou menos resiliente, conforme o que foste. Magoam-te, fazem-te vibrar. Mas nunca mais serás o mesmo porque o material de que és feito (e que não consta da Tabela Periódica) é estranhamente mole, estranhamente cruzado entre si, estranhamente entrelaçado. És rede. Deixas passar coisas, ar quente, o frio e a chuva, olhares, pequenas mortes, as palavras dos outros e a memória do que foste.

És pouco mais que a matéria. És pouco menos que matéria.

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