São coisas que nunca entenderei, mas que, se assim não fossem, trariam, quase de certeza, mais verdade ao mundo político onde fomos depostos: Não é possível nem aceitável nem sequer honesto que pessoas que discutem - porque se tratam. efectivamente, de discussões - as políticas de um país, se sentem, à hora do almoço, para amenas conversas em torno de questões importantíssimas como o futebol, ou a actuação desta ou daquela pessoa que conhecem pessoalmente nos programas de televisão de domingo à noite.

Não defendo que, à boa maneira asiática, voem cadeiras nos parlamentos ou saiam ganchos de direita ou de esquerda dirigidos à gravata ou aos óculos de quem lá está. Mas acho, de algum modo, ainda mais ofensivo que se cumprimentem ao almoço ou ao jantar depois se terem acusado mutuamente de violar os direitos do povo ou, em alturas mais quentes, se terem chifrado ou ofendido pessoalmente em surdina.

Sempre pensei que os direitos do povo são melhor defendidos ao jantar, depois de uma boa regadela de branco ou de tinto e de um trago final, pós café, de uma qualquer bebida espirituosa. E não devo estar muito longe da verdade, mas não posso evitar, ao mesmo tempo, que estas coisas me tragam à memória uma espécie de imagem de máfia a que os filmes americanos me terão habituado.

Assim sendo, as discussões de parlamento poderão não mais ser que encenações, ou, no caso português, uma espécie de fados à desgarrada por fadistas sem voz, mas que deveriam, afinal, em vez de cantar, ser a voz do povo.

Todos os dias, a quem ainda se dá ao trabalho de tentar perceber as notícias das 8, se assiste a um mau teatro consentido. Pagamos, de várias maneira, para o ver, e, como se não bastasse, suportamos o aluguer do palco.

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