Quem comigo tem uma relação pessoal (mais ou menos forte, conforme o caso, o acaso e a distância física e temporal dos reencontros) sabe que falo pouco de duas coisas: de mim e de política.
 
Evito falar de mim porque quero ser moderno. Faço-o por conveniência. Faço-o porque quero estar de acordo com as horas e incutir nos outros a ideia de que também eu não alinho em egoísmos e em valorizações excêntricas do "eu", em detrimento do "nós". Que sou como os anos europeus.

Mesmo assim, como se se tratasse de uma descoberta quinhentista, percebo que há, ainda assim, ao segundo que passa, quem prefira falar "deles" e "delas", em vez de falar de si ou de "nós". São, normalmente, pessoas com baixíssima auto-estima, que ainda não atingiram a fase nirvana do pensamento contemporâneo e que ainda não deram as mãos ao próximo (de Sagres a Bragança), que não foram nem escuteiros nem voluntários nem festivaleiros ou que não partilharam o seu corpo e elasticidade ao luar, dentro de uma tenda, fazendo barulhos superiores aos dos mosquitos para que os colegas, na outra tenda, ouçam o seu rugido sexual.

Pessoas coitadas, portanto.

Quanto à política, não me atrevo a fazer comentários, até porque a melhor maneira de fazer política é não fazendo comentários a nada. A maioria dos políticos, dos bons políticos (senão mesmo de todos os bons políticos) sabe disto. Deixa-se estar e, de contas em contas, a razão do seu silêncio é directamente proporcional à força da sua carteira.

Há outra razão pela qual não falo sobre política, que é o mesmo que dizer que não comento a vida e obra dos políticos: escrevo tudo. Escrever é uma forma de contar até três sem nos enganarmos e eu gosto de escrever, sobretudo sobre política. A palavra escrita é muito mais importante que dizer coisas sobre política usando a língua, que, afinal, pode servir para outras tantas coisas muito mais primaveris. Tudo se torna banal em menos de cinco minutos, eu consigo adormecer e fazer adormecer as pessoas quando digo de um político isto ou aquilo, até porque não sei separar a distância entre a obra política do político e a vontade do político (isto é, entre a vontade do povo e a inalienável vontade do povo vertida na magna capacidade do político, ser dotado de inteligência e vontade superiores).

Falar sobre política, hoje, é acabar de vez com uma conversa que poderia ser interessante mas que terminará empoeirada, azedada, dorida, como ficam as nossas costas quando vamos para a praia pela primeira vez no ano. Ninguém gosta. É estar sempre contra alguém, é uma espécie de afastamento deliberado da razão e do bem comum. São gajos do contra, a receber o subsídio de desemprego acumulado com o subsídio de reinserção social. Note-se que um golo de um jogador de futebol júnior é mais importante que os milhões de euros retirados ao povo por um político que, por entender estar a fazer o bem comum, calcetou moedas à entrada do loft pensado pela maria desde pequenina e embutiu moedas nas paredes da sua piscina, na casa de férias no Algarve.

É melhor, menos mau, menos pecaminoso e, acima de tudo, mais contemporâneo, moderno e muito mais interessante falar mal da vizinha que do político.

É ser-se um democrata, é ser-se um cidadão no pleno gozo dos seus DLG's: Direitos (dos poucos que ainda tem), Liberdades (de ir ao café, por exemplo) e Garantias (bancárias).

É giro. É diferente.

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