O lado mais interessante do tempo a que estamos entregues é que - não só por antecipação lógica mas por uma forma de pressentimento que vem connosco do início do mundo - sabemos que haverá outro tempo radicalmente oposto àquele a que fomos atirados.

Apesar de tudo, a nossa essência não está entregue ao desbarato dos ventos e dos eventos políticos e das vicissitudes económicas dos países e das nossas casas. Sabemos, enfim, que há-de chegar um tempo em que tudo aquilo que é, hoje e agora, dado como fundamental passará a ser acessório. E isto é sabido porque terá que ser assim, é sabido porque é assim, porque assim somos nós, que sempre estivemos dentro desta caixa.

Vejam-se os telejornais: daqui a um ano, daqui a um efémero ano, as notícias que ouviremos, se ainda as quisermos ouvir, serão uma repetição mais ou menos velada das notícias que hoje constarão da agenda das televisões, das rádios ou da internet. Daqui a uma semana, a repetição da notícia será ainda mais evidente, se a memória - essa vadia - nos não for curta.

Apetece-te ver um filme repetido? Apetece-te, se sentires que o já viste há muito tempo, se souberes que vale a pena e se pressentires que conseguirás subtrair ao seu sentido outros que não haverás descortinado, por haver pipocas, por as cadeiras não serem confortáveis, por teres conseguido entrar na sala antes das luzes se apagarem, por teres ficado demasiado próximo do écran e a tua visão se ter resumido aos pormenores.

No futuro, a economia, a política e outras formas de entretenimento social serão apenas o que são: formas de olhar o mundo. Mas o mundo só é visto e compreendido por visões sobrepostas a outras, a outras que virão, que não sabemos, ainda, quais são, mas que virão.

Só temos que esperar pelo futuro, sabendo, com tristeza e resignação, que estamos presos no tempo presente. Será por isso, talvez, que te preocupas tanto com o tempo que fará amanhã, mesmo sabendo que o calor continuará.

Sem comentários: