A tão proclamada crise em que estamos, por assim dizer, depostos está a evidenciar aquilo que de pior poderemos ser. Não é verdade que estamos mais próximos de sermos solidários; é verdade, sim, que estamos mais próximos de vermos o que é ser solidário para quem, a certa altura da sua via, optou por o ser. É como se assistíssemos ao desfile dos solidários, à beira de uma fita amarela de segurança que nos impede, por medo, de entramos nesse desfile, sob pena de passarmos ou a figurantes no palco de quem já tinha feito a sua opção ou à razão de ser do próprio desfile. Estamos próximos, mas não estamos lá. Não somos de lá porque nunca termos pensado no lado de lá, com o lado de lá.

No fundo, e como sempre soubemos, a falta de dinheiro promove a mesquinhez e, acima de tudo, a falta de tolerância para com o outro, aspectos que já habitavam em nós desde que somos da mesma espécie mas que, aos poucos, acorda, quando damos à chave do carro, no que vamos sendo.

A política, enquanto for um mero exercício técnico contabilístico, deixa, por um lado, de ser um instrumento da vontade de todos e, por outro, levanta socialmente a pior questão que poderia ser posta relativamente à sua essência: o seu fim.

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