Tenho otites um número incalculável de vezes por ano. Ou por década, dado ser já uma condição da minha espécie particular. Sabe quem as teve o incomódo que são - desde a recorrente vontade de entulhar paus, explosivos e outros objectos no interior do ouvido até à necessidade de bater com a cabeça na parede para que a dor, enfim, se esconda noutras partes do corpo e nos provoque um derrame cerebral, vale tudo. Tudo.

No entanto, e dada a minha vasta experiência em otites (aliada à vontade nula de me dirigir ao médico, por não acreditar em médicos nem na medicina profissional), este mal do corpo tem-me feito pensar que, em muitos casos, as otites são extremamente úteis quando aliadas a uma certa surdez, facto normalmente associado ao aparecimento da maioria das espécies de otites.

A pior otite é - pelo menos, quanto a mim - a purulenta: dói que se farta, expele pus em forma de farpelas esbranquiçadas (apenas comparáveis a uma espécie de minhoca usada na pesca, o coreano, mas recém-nascida, de modo a que nenhum peixe se interesse por ela), atravessa o corpo e a alma em impulsos de dor comparáveis a choques eléctricos e, como se não bastasse, permite ouvir quem não que queremos ouvir e saber do que não queremos saber, mesmo que com limitações.

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