Quanto mais vivo, mais sei que o que ouvia quando era pequeno e me era dito como se de uma verdade absoluta se tratasse era, de facto, uma verdade absoluta.

A minha adolescência foi uma época de retrocessos. Não me disse nada de profundo, de definitivo, de constante. Fiquei a perceber que cada corpo é um corpo diferente, que o meu metabolismo do alcóol não é o mesmo do Nuno, e que as mulheres, regra geral, vieram ao mundo para nos desviarem do rumo que sabíamos ser o certo quando frequentávamos a quarta classe e que, depois da faculdade, retomámos, se ainda nos foi dada essa possibilidade.

Dizia Platão que todo o conhecimento é um reconhecimento. Nada mais certo. E eu sabia disto, sobretudo com oito anos e sem nunca ter ouvido falar de Platão. Platão estava nas coisas, nas certezas do meu Avô, no olhar analítico da minha Mãe, no temor fraternal da minha Avé, que Deus terás tido todo o prazer em ter recebido.

E hoje ainda o sei, mas é como se o não soubesse. É como se me faltasse uma voz de verdade que, em mim, reconheça e oficialize a própria verdade e as pontas da sua saia rodada.

Não percebo porque nascemos, mas é evidente que a decisão que alguém toma por nós de nascermos se baseia na inevitabilidade de aprendermos de novo o que já sabíamos ainda antes de nascermos. Os nossos pais não sabem disso, os nossos avós também não, mas há alguém que sabe por eles.



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