Interrogo-me sobre a possibilidade de existir um método que torne possível livrarmo-nos das preocupações. Esta interrogação - que ponho a mim mesmo, dado que a minha maior preocupação é saber como me livrar das preocupações - é baseada na ideia (provavelmente, certa) de que as preocupações acontecem em nós algum tempo antes de acontecerem em nós os problemas.

Uma preocupação não deveria ser um problema. É limitativa. Sufocante. Pressupõe o acontecimento de algo mau antes mesmo desse acontecimento, por assim dizer, acontecer. Entendo que a formatação genética humana tenha contemplado o surgimento repentino das preocupações como forma de prevenção. É como uma dor - previne o aparecimento de algo pior que a própria dor.

Mas há um erro, segundo percebo, na introdução do sistema de preocupações na formatação do humano. A preocupação, ao sugerir o aparecimento de um problema, sugere-o, normalmente, de uma forma demasiado incisiva. Logo, a preocupação torna-se no problema.

Penso que a única forma de resolver este problema é diminuir a carga de emotividade que é atribuída à preocupação. E deve, penso, existir uma forma, um método de o fazer. Como primeira resposta a este problema das preocupações, imagino que surjam vozes a apontar para o Oriente. Eu respeito o Oriente, os Orientais e isso tudo, mas não me parece que, para uma pessoa que anda com problemas por estar preocupada, a meditação ou um conjunto de agulhas espetadas atrás da orelha possam ser uma virtude. Partir pratos ou conduzir uma retroescavadora poderão, talvez, resultar num alívio dos sintomas, mas, mesmo assim, imagino que não nos salvem do temor de acontecer o que achamos que não deveria acontecer.

Estar previamente ocupado (preocupado) ocupa espaço em nós, torna-nos pesados e retira-nos força para resolver o problema, caso o problema aconteça. Se houvesse uma estatística das preocupações que, por acaso, se transformaram em problemas, calculo que a taxa de preocupações concretizadas seria baixa. Cerca de 8%. Talvez menos. Não sei. É um alerta, um farol, mas um farol com uma luz demasiado forte, que nos cega, como quando, ao conduzir, vemos um carro ao longe com os máximos ligados e ficamos, por segundos, à espera do pior.

Sugiro, pois -embora não saiba a quem devo dirigir esta sugestão - que as preocupações sejam menos ocupantes e que, já agora, surjam temporalmente mais próximas dos problemas. É preferível morrer de ataque cardíaco com um susto do que com ataques sucessivos de ansiedade, que gerarão, mais tarde, o tal ataque cardíaco que a formatação humana parecia querer evitar.

Poderão ainda dizer: sim, certo, mas há humanos e humanos, e há humanos que não estão embutidos com uma carga de emotividade tão grande que consiga transformar preocupações em problemas. No entanto, isto soa-me mal. Não acredito. E preocupa-me pensar que hajam pessoas que pensem assim. Além disso, a carga brutal de tomas de ansiolíticos e antidepressivos de alguns humanos prova exactamente o contrário. Estão preocupados. Estão com problemas.

Sem comentários: